GLANCE

Ter um filho em tempos de pandemia

Esperar um bebé é sempre uma experiência emocionante. É uma viagem muito especial que por vezes vem com muitos altos e também alguns baixos. Como deve ser ter esta experiência em tempos de COVID-19, quando tantas áreas da nossa vida quotidiana são tudo menos normais? Ainda mais quando a gravidez e o parto não correm como esperado ou planeado? Nesta entrevista, Patrícia Larguinho Estêvão e Pedro Filipe Silva Oliveira, pais de Lourenço Filipe Estêvão Oliveira, que nasceu às 26 semanas em Março de 2020, partilham o que sentiram ao passarem por este período emocional.

GLANCE: Cara Patrícia, caro Pedro, o seu filho nasceu durante a pandemia. Será que a ideia de se tornarem pais em tal época, o afectou emocionalmente? Se sim explique porque?  

Para além de estarmos nervosos e perdidos por o nosso bebé ter nascido de 26 semanas de gestação, a situação da pandemia ainda veio complicar mais a nossa situação por ser algo novo e desconhecido.  Todos os dias acordávamos com imenso medo de podermos ter contraído o vírus e termos de ficar longe do Lourenço, pois tínhamos noção que ele teria de ficar muito tempo internado na Unidade de Neonatologia.  O nosso estado emocional esteve completamente de rastos. 

Diz que o seu filho foi hospitalizado após o nascimento, será que a pandemia, as respectivas normas de higiene e segurança afectaram o tratamento e os cuidados com o seu bebé? Por exemplo perderiam os dois pais estar c o bebe na NICU. Os horários de abertura da NICU eram limitados? E se havia tantas normas como efluênciaram emocionante?

Sim, afetou imenso o nosso estado emocional. Pois todos os dias os horários e as normas eram alteradas. Tínhamos que ser bastante rigorosos e cautelosos com a nossa higiene cada vez que íamos ver o nosso bebé. Podemos dizer que tínhamos imenso medo de poder levar algum vírus ou bactéria para ao pé dele, pois sabíamos que ele era um bebé muito pequenino é muito vulnerável.  O Lourenço nasceu no dia 13/03/2020, logo mesmo a seguir a terem declarado pandemia mundial. Era tudo “novo” e desconhecido naquele momento. Ele esteve internado cerca de 91 dias, e infelizmente nunca podemos estar os dois presentes ao mesmo tempo para sabermos as novidades do nosso bebé. Conseguirmos estar a 1ª vez os 3 juntos cerca de 1h no dia 1/6/2020 porque a Unidade abriu uma exceção por ser o dia Internacional da Criança e voltamos a estar novamente os 3 juntos no dia 12/6/2020 quando o nosso bebé teve, finalmente, alta.

Lourenço Filipe Estêvão Oliveira, nascido às 26 semanas, com os seus pais
Patrícia Larguinho Estêvão e
Pedro Filipe Silva Oliveira.
© privado

Baseado na nossa experiência qual é a mensagem ou concelho que gostaríamos de passar para outros pais ou membros da NICU?

Bem,  uma enfermeira sentou se connosco e disse: “agora vamos viver hora a hora e dia após dia” e é mesmo assim que temos que fazer! Não foi nada fácil, de todo, confesso. É muito importante quando estamos com os nosso bebés vestirmos uma capa e sermos muito fortes mesmo, porque eles absorvem todos as nossas energias, todo o nosso amor e carinho por eles, e isso é essencial. Sempre que tiverem uma simples pergunta ou dúvida perguntarem sempre à equipa porque eles estão sempre prontos para nos ajudar a compreender tudo o que se está a passar, ou poderá passar. Um fator  essencial é estarem sempre presente se assim for possível. A nossa presença e o nosso colo e mimo é o “melhor” tratamento que eles podem receber. E por último, nunca desistirem de lutar. Pois estes mini mini seres são maravilhosos e é neles que nós vamos buscar todas as forças e mais algumas para conseguirmos superar isto tudo. Lembrem-se, eles são mais fortes do que nós imaginamos e são uns verdadeiros guerreiros.

Cara Patrícia, caro Pedro, muito obrigado pelo seu tempo e por partilhar a sua experiência e conselhos.

Como muitos pais em todo o mundo, Patrícia Larguinho Estêvão e Pedro Filipe Silva Oliveira foram separados do seu bebé prematuro devido às contínuas medidas de segurança e higiene da COVID-19. A GLANCE apoia os pais que tiveram ou ainda têm de experimentar tais políticas de separação e advoga por cuidados centrados na família e políticas de separação zero – também em tempos de pandemia. Se nos quiser apoiar e quiser saber mais sobre a “Separação Zero! Juntos por melhores cuidados”, por favor visite a nossa página de campanha.